Até a tomada da América do
Norte pelos europeus, não existia um padrão de gênero considerado normal entre
os grupos étnicos norte-americanos. Diferente da nossa sociedade, os indígenas
norte-americanos tinham uma multiplicidade de gêneros, não estabelecendo um
como regra e nem transformando outros em anormalidade ou algo a ser evitado.
De acordo com a plataforma
digital Indian Country Today, as comunidades nativas da América do Norte
reconheciam os seguintes gêneros: feminino, masculino, feminino de dois
espíritos, homem de dois espíritos e transgênero. Segundo os indígenas, pessoas
com características feminina e masculina ao mesmo tempo eram consideradas
superdotadas pela natureza, sendo capazes de vislumbrar os dois lados de tudo.
As pessoas da comunidade
eram valorizadas por suas contribuições, e não por serem homens ou mulheres.
Antes da ocidentalização desses povos, as roupas das crianças eram neutras em
termos de gênero, e não existia um ideal sobre como pessoas de determinado sexo
deveriam se portar.
“Cada grupo tem seu próprio
termo específico, mas existia a necessidade de um termo universal que a
população em geral [de falantes de inglês] pudesse entender. Os Navajo se
referem a Dois Espíritos como Nádleehí (alguém que está transformado).
Entre a etnia Dakota temos a
palavra Winkté (indicativo de um homem que tem compulsão de se comportar como
mulher), Niizh Manidoowag (dois espíritos) entre os Ojíbuas, e Hemaneh (meio
homem, meia mulher) entre os Cheyenne, para citar alguns”, afirma o site.
A tradição dos Dois
Espíritos foi uma das primeiras coisas que os colonizadores quiseram destruir.
Essa forma de viver deveria ser erradicada antes que pudesse ser registrada em
livros, e foi continuamente perseguida durante o massacre desses povos.
Um dos indígenas Dois
Espíritos mais lembrados foi um guerreiro da etnia Dakota chamado Osh-Tisch.
Nascendo homem e casando-se com uma moça, ele vivia adornado em roupas
femininas e se portava cotidianamente como mulher. Em 17 de junho de 1876,
Osh-Tisch ganhou fama ao resgatar um membro de sua comunidade durante a Batalha
de Rosebud Creek.
“As pessoas Dois Espíritos
na América nativa pré-contato eram altamente reverenciadas, e as famílias que
os incluíam eram consideradas sortudas. Os indígenas acreditavam que uma pessoa
capaz de ver o mundo através dos olhos de ambos os sexos era um presente do
Criador”, afirma o Indian Country Today.
Com o prosseguimento da
colonização, influências religiosas atuaram de maneira devastadora perante
esses povos. Em inúmeros casos, pessoas com Dois Espíritos deveriam escolher
entre deixar de ser quem eram, negando suas tradições e costumes, ou acabar com
suas vidas. Muitos deles escolheram a segunda opção.
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