sexta-feira, 30 de junho de 2023

This my love


    ... this my love
    day after day ...
    I waiting for my love
              a letter
              a photo
              a song
     that will come with the wind!
           ...and life goes on,
              day after day ...
     I dreaming with my love
     I feel that in our memories
     the dream has just begun
     and that the wind just makes me feel
     You closer to me!


 

Amen!

Ich bin klein,
mein Herz mach rein!
Soll niemand drin wohnen
als Jesus allein.

Amen!

 

Bento Cego

 

Bento Cordeiro nasceu no Registro, em Antonina, lá por 1821. Nasceu cego e pobre, filho de caboclos do nosso litoral.
Logo perde o pai, a sua mãe, Ana Maria, tem de manter o barraco da família e cuidar do filho cego.
Mocinho, Bento foi numa festança, onde os caboclos dançavam fandango batendo pé com os tamancos chumbados de chocalhos. Lá estava Chico Folião, o Rouxinol da Faisqueira, cantador de muita fama.
Chico Folião já tinha derrotado todos outros repentistas da noite.
Cada quatro porfias ganhas davam direito ao prêmio: um galho de arruda na viola e a admiração das moças.
As moças assanham Bento para desafiar o campeão, afinal ele era dono da mais bela voz do coral da igreja.
Arranjam uma viola para Bento e começa seu primeiro combate.
Chico Folião parte para o ataque.
"Nem namorar você pode porque vista não tem vive só sem ser amado sem olhar não se quer bem".
Bento cego contra-ataca: "Sem olhar também se ama a mulher que estima a gente os olhos são traidores quando o coração
não sente". A porfia segue braba e, por fim, Chico Folião se confessa derrotado.
Cabelão comprido, moço bonito logo enfrenta outro cantador famoso.
A peleja termina com os dois chorando com os versos de Bento:
"Não posso dizer se tal coisa é feia ou bonita porque me vejo no abismo da escuridão infinita. "
Antonina fica pequena para ele, Bento Cego se despede da mãe e sai pelo mundo afora vencendo desafios.
Sente fraqueza nos pulmões e vai para Lapa se curar. Lá enfrenta
o invicto Manoel Viola e diz o que pensa da mulher: "Tem amor tem distinção ralhaefala mas não deixa de escutar teu coração".
Manuel Viola alerta: "Pois então se é assim estás de todo perdido. Hás de ver teu coração cair bem logo vencido". Bento reflete "Bem vindo que seja ele/ pela graça da mulher/ antes ela nos vença/ do que a mão de Lúcifer". Vencer mais esta porfia.
Sente-se curado e segue seu caminho.
Fica em Santa Catarina, numa casinha dum fazendeiro seu fã. Encontra o amor: é Catarina, uma bela jovem órfã que trabalha na roça.
Ela cuida dele e tudo vai bem, mas Bento Cego quer mais: "Só quisera ter a dita de filha te enxergar que a vida eu não gomaria/ diante de teu olhar". Ela sorri para Bento, os dois se amam: ‘Não há dúvida que tens/ muita candura no amor/ mas eu quisera senhora/ ver-te sorrir com fulgor". Vivem felizes.
Um dia, ele acorda e não sente mais o doce cheiro do corpo de Catarina.
Sem aviso, ela foi embora.
Seu mundo fica mais escuro.
Sem poder suportar a solidão, Bento parte.
Talvez um dia, reencontre Catarina, o amor.
Um dia aparece em Sorocaba, amargo, cansado e com os pulmões doentes.
Mesmo fraco, aceita enfrentar ao mesmo tempo 3 cantadores. A porfia segue por 3 dias e 3 noites.
Caindo de cansaço, Bento Cego ainda canta: "Hei de morrer cantando/ Cantando me hei de enterrar/ Cantando irei para o céu/ Cantando conta hei de dar". Diz-se que, nesse momento, levantou os olhos ao fundo da sala, onde havia uma imagem da Virgem.
Diz-se que, nesse momento, viu a imagem da Virgem.
Ninguém sabe.
Nesse momento, ele caiu morto, deitando sangue pela boca.
Ninguém sabe, mas acho que, nesse momento, ele não viu a imagem da Virgem, viu novamente o amor, viu Catarina.

(Valêncio Xavier
- 1933/2008 - escritor e historiador, professor, grande mestre e amigo)